12 abril 2006

A tua ausência

Hoje pensei muito em ti, mais do que o habitual, confesso e nem sei bem porquê. Talvez o pôr-do-sol triste e encoberto me fizesse sentir saudades de dias mais azuis. Hoje estaria a pensar em ti mesmo junto a ti. Talvez pela desilusão. Ele está presente no meu olhar á medida que olho para tudo o que me rodeia, incluindo quando me olho ao espelho.

Agora dizes o meu coraçãoo ser duro como pedra? Engraçado... o meu coração não é pedra é um deserto de areia seca gasta pelo corroer lento do vento. É mar salgado e escuro como as lágrimas que outrora tinha e agora secaram. O mar imenso de lágrimas que secou no meu olhar tornando-o um sitio perdido e abandonado. Um mar imenso de desilusão, um cemitério de barcos velhos afundados como o nosso amor.

Tudo me desilude e todos são desilusão. Começo por mim mesma acredita. Pois eu mesma já deixei de acreditar seja no que for. E á medida que escrevo mais uma página deste diário noto uma diferença já não me dói tanto escrever como se me estivesse a esvair em sangue pela ponta da caneta. Estou insensível à dor e a esta tristeza que já se tornou aos poucos parte de mim, aos poucos que fui abandonando todos os sonhos. Tornei-me seca e amarga, admito, mas talvez seja esta a minha verdadeira natureza no acertar de todas as contas.

Limito-me agora a gerir o tempo da melhor maneira possível. Faço por ajudar outros e entrego-me de alma inteira a trabalhos filantropos para expiar todos os meus pecados. Na fútil esperança de que algures consiga gostar um bocadinho mais das pessoas feias que somos. Na parca hipótese de ainda nos salvarmos.

Desisto sabes!?... O mundo lá fora é um lugar feio, habitado por pessoas feias como nós. Onde todos deambulam á procura de algo efémero e inútil como amor ou felicidade. Os vultos lá fora não devem ter razão. Os vultos dos nossos corações também não. Então fecha os olhos e dorme descansado e deixa os fantasmas saírem esta noite. Deixa-os passear pelas ruas à noite de mão dada com o nosso amor que morre. Deixa os medos, as lágrimas, as desilusões, abandona os fantasmas que temos, os fantasmas de náufragos neste nosso mar de desilusão.

(não podería existir nada que melhor falasse de mim, da incerteza que sou e do que sinto deste mundo feio e vil em que vivemos)

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Ad confessionem