...Esta manhã olhei-te, olhei para o teu ar cansado e nostálgico, como se tivesses ali, como se amanhã fosse o ultimo dia das nossas vidas...
Olhei-te com uma revolução de sentimentos, entre bruscos e doces, entre saudade e pena, entre ilusão e desgosto.
Olhei-te com a fórmula, com a palavra certa presa na agonia do meu coração, este despedaçado à força do desentendimento, da falta de sensibilidade que outrora existiu.
Mas que fizemos nós? Como destroçamos tudo o que acreditamos? Como nos desiludimos, e fizemos um temporal nas nossas vidas, culpabilizando os outros, a vida... Até os frutos colhidos por nós...
Olhei-te com uma agonia de desperdicio, com um desejo de te passar a mão no rosto, e dizer-te baixinho que tudo vai correr bem. Mesmo que o mundo se devaste, mesmo que as flores murchem, e as estradas estejam cortadas.
Tu foste o meu erro ortográfico, aquele ridículo, absurdo, embora inevitável, aquele tipo de erro, que se sente que não se está a escrever correctamente, mas avançamos, não corrigimos…Fica como está.
Esta manhã olhei-te, como se fosse o ultimo momento que estivesse a sós contigo, mesmo eu estando ali, e tu fisicamente sei lá aonde, mas observei e senti a tua presença, como se me visses, e soubesses que eu estava ali. E talvez soubesses, talvez adivinhasses a minha longa caminhada até ti, desarmada, descalça, e com as mãos vazias.
Esta manhã procurei-te... Nas ruas vazias, no frio na noite, na calçada mais pobre, e em todos os meus sonhos... Não sei porquê, afinal fui eu quem partiu, quem desistiu, quem seguiu outra estrada e te abriu uma nova porta... Como eu te amei... Esta manhã olhei-te para te sussurrar ao ouvido, aquele segredo....Ouviste?"
de Joana Freitas
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